A ORIGEM DO FENG SHUI


O surgimento do Feng-Shui está envolto em lendas e fatos que se perdem no tempo, mas a análise de documentos e estudos da Antropologia podem lançar alguma luz sobre a questão.
Alex Alprim


Segundo vários estudiosos e pesquisadores, a população que originou a civilização chinesa deslocou-se para o continente há 500 mil anos. No entanto, os chineses possuem registros arqueológicos que recuam essas datas para, pelo menos, 1,5 milhão de anos. Apesar disso, ainda existe no meio acadêmico uma séria resistência em admitir civilizações asiáticas contemporâneas às da Babilônia e Mesopotâmia. Na verdade, um sítio arqueológico encontrado recentemente data a civilização chinesa em pelo menos 6 mil anos, o que estaria de acordo com as lendas sobre Fu-Hsi, um personagem famoso na história da China.

Fu-Hsi

A importância de Fu-Hsi encontra paralelo em todas as lendas dos grandes civilizadores da Antigüidade, como Hermes Trismegistos – tido como aquele que desenvolveu a civilização egípcia – ou Viracocha, na América andina. 

Fu-Hsi introduziu não apenas os conceitos do Feng-Shui (ou Fong-Suei1) – acima de tudo ele é considerado o grande civilizador e unificador da China, levando ao país técnicas de construção, de irrigação, a roda e uma forma rudimentar de escrita que, posteriormente, daria origem aos ideogramas chineses. 

Sua vida e obra estão envoltas em grande mistério e, considerando que os registros desse período são esparsos, fica difícil tirar conclusões sobre sua real existência.

Toda a arte e ciência, assim como os principais tratados sobre a filosofia chinesa referentes às energias, são creditados a Fu-Hsi. Assim como aconteceu com Hermes Trimegistos, dizem que Fu-Hsi adquiriu seus conhecimentos observando as estrelas no céu e as montanhas e vales na terra, e onde o dragão dormia. Nesse texto podemos inferir a máxima hermética “assim como em cima é embaixo”, ou “assim no céu como na Terra”, e também é possível afirmar que existem ciências paisagísticas equivalentes ao Feng-Shui primitivo nas civilizações grega, egípcia e nas construções européias do século V até XI d.C., quando elas misteriosamente desaparecem.

Uma das lendas mais importantes referentes a Fu-Hsi e de extrema importância aos estudiosos do Feng-Shui é o surgimento do que chamamos de Mapa do Rio Lo – muito embora seja possível que esse mapa tenha surgido com o Rei Wen e o Duque de Chou, que estudaram e deduziram o I Ching a partir dos trabalhos de Fu-Hsi –, pois nele está contido o mapa que hoje alguns chamam de ba-gua ou pa-kua².

Fu-Hsi começou desenvolvendo um mapa que representaria as energias no chamado Mundo das Idéias – um conceito abordado por Platão alguns milênios depois – conhecido como Mapa do Céu Anterior, que seria uma representação gráfica baseada numa estrutura de pontos, com representações numéricas mostrando como as forças espirituais e dos ancestrais atuam no mundo material para organiza-lo segundo a ciência superior.

Porém, quando Fu-Hsi estava fazendo uma rede de irrigação nas margens do rio Yan-Tsé, ou Rio Lo, como era chamado antigamente, uma tartaruga saiu do fundo do leito e se postou aos seus pés, falecendo. Segundo os chineses, isso representava um fato de extrema sorte para todos os presentes e para toda a China, pois se acreditava que os deuses residiam nos cascos das tartarugas. Ao postar-se aos pés de Fu-Hsi e morrer, o animal sacrificou-se em nome dele, tornando-o Imperador, pois a partir de então ele passou a deter o Mandato dos Deuses.

No casco da tartaruga Fu-Hsi percebeu uma série de desenhos semelhantes aos que havia usado na representação do Céu Anterior. Sem compreender o significado, ele levou o casco para a capital chinesa e estudou-o durante 80 anos. Desse estudo surgiram todos os conhecimentos chineses e também o Mapa do Céu Posterior, usado até hoje por todas as escolas de Feng-Shui e que representa o mundo material com suas estações sazonais – primavera, verão outono e inverno – bem como as energias a elas relacionadas, que são favoráveis a vida.

O Feng-Shui nasceu, portanto, da observação dos contornos e desenhos do ambiente, da intuição que auxiliava seus praticantes a determinar as linhas de energia que percorriam o solo (as veias do dragão), da percepção de como o curso dos rios e o fluxo dos ventos influenciavam as plantações, e da astrologia e astronomia, que determinavam as épocas propícias para o plantio. Essa é, mais precisamente, a Escola da Forma – uma linha de Feng-Shui que analisa o ambiente pelas formas que ele contêm.


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